terça-feira, 22 de setembro de 2009

Nota da ABONG sobre a criação da CPI contra o MST

Associação Brasileira de
Organizações não Governamentais


Nota da ABONG sobre a criação da CPI contra o MST

A Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais, ABONG, vem por meio desta nota, manifestar seu repúdio à criação de mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.

A ABONG considera que a criação desta Comissão decorre de permanentes processos de criminalização de movimentos sociais, nos quais o MST tem tido triste, involuntário e permanente papel de protagonista. Essa estratégia atende aos interesses de setores retrógrados do Congresso Nacional, os quais, em aliança com o agronegócio e latifundiários, autoritariamente não aceitam a existência de um movimento popular legítimo, que há vinte e cinco anos organiza a população no campo para a luta por uma reforma agrária em nosso país. Esta CPI faz parte da estratégia da elite brasileira de barrar qualquer possibilidade de mudanças estruturais na nossa sociedade.

É importante ressaltar o motivo deflagrador desta nova ofensiva, que para o MST se deve à conquista da atualização dos índices de produtividade, bandeira histórica dos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra, anunciada recentemente pelo governo federal.[1]

Segundo a Constituição Federal, toda a terra que não cumprir sua função social é passível de desapropriação para fins de reforma agrária, o que não compreende apenas as improdutivas, mas também relaciona-se às propriedades que descumprem as leis trabalhistas e ambientais. Dessa forma, a atualização representa um pequeno avanço, já que a medida dos índices até então atingia apenas as propriedades rurais consideradas improdutivas e não garantia o cumprimento da lei de forma mais abrangente.

É, no entanto, impressionante, como, em um contexto de democracia, parlamentares e grande imprensa, articulados aos representantes do latifúndio e agronegócio, insistem em tentativas de criminalização do MST. Estas não desembocam apenas em ações ideologicamente comprometidas, como é o caso desta CPI, das investigações do Ministério Publico do Rio Grande do Sul e o fechamento das escolas do MST neste estado, mas também estimulam e contribuem para assassinatos de militantes da causa da reforma agrária, despejos violentos e proibição de manifestações.

A existência de movimentos sociais como o MST é saudável e imprescindível à democracia, pois sua atuação abrange a luta por direitos em seu conceito mais amplo exigindo do Estado a desses direitos.. A defesa da reforma agrária, da educação pública de qualidade, do meio ambiente e todas as demais bandeiras do Movimento são também bandeiras da ABONG, pois sua efetivação aponta para a construção da sociedade que queremos, com justiça social, igualitária e fraterna.



[1] Os índices medem a produtividade de imóveis rurais e não eram atualizados desde 1975. Com a atualização dos índices segundo dados de 2003, grandes áreas antes consideradas produtivas podem agora ser declaradas improdutivas e ser desapropriadas para fins de reforma agrária.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ÚLTIMA REUNIÃO DOS LEITORES BARESES

Ontem, domingo 13 de setembro, num fim de tarde chuvoso fizemos mais uma reunião dos 'lettori baresi' no café ao lado do parque. Embalados pelo clima de início de outuno fomos debater o primeiro livro do jovem milanês Paolo Cognetti 'Manuale per ragazze di sucesso'.

Eu particularmente tinha entrado numa briga com o livro durante a leitura, uma obra que se propunha a relatar contos e me deixou extremamente confusa e questionadora. Considerando a brilhante carreira jornalística do autor não acho justo ser muito dura, direi apenas que a minha "crise" girava em torno do próprio ato de escrever e como se forma um escritor. Lembrei de Drummond e da sua incansável busca pela forma e pelo amadurecimento do seu estilo literário. Pensei também nos muitos debates que participei durante o curso de História abordando o carater literário ou não literário da mesma. O "mêdo" de perder o "compromisso" com a ciência. E tantas vezes me perguntei: - quem disse que a literatura não tem compromisso, quem disse que a literatura é vã ou aleatória??? Por que algumas pessoas insistem em tratar a literatura e/ou a arte de maneira geral como algo que surge do nada e se alimenta desse mesmo vazio que se confunde até com liberdade. Enfim, sem mais delongas, precisamos tornar aos clássicos, sou historiadora contemporânea, estudiosa da pós-modernidade e, exatamente por isso, acredito que seja fundamental beber do clássico para vivenciar o contemporãneo. Ao Paolo Cognetti digo apenas que ele pode conseguir um dia fazer um livro de contos, acho que ainda não conseguiu, isso não diminui a sua tentativa e nem desvaloriza o seu trabalho. Sean Penn também é um excelente ator, mas não tem conseguido - NA MINHA MERA OPINIÃO PESSOAL - êxito como autor/diretor de filmes, talvez um dia consiga, talvez não!

Fiz um pequeno resumo das considerações dos colegas do grupo:

1. Forma: O autor escreve em primeira pessoa (fator considerato interessante).
2. Estilo: elegante, amargo, drástico, "americano", sem estilo...
3. Características da obra: pouco profunda, superficial, fragmentada, vazia, disordinata, detalhista, baseada nos personagens e não na história.
4. Proposta: análise masculina sobre a feminilidade / pretenciosa abordagem do conceito de feminilidade.

Como sempre as opiniões foram variadas, mas de maneira geral o livro provocou um pouco de decepção e de vazio entre os leitores.

Livro escolhido pelo grupo para a próxima reunião:
L'AMORE DEGLI ADULTI - Cláudio Piersanti.

Outras sugestões de leitura levantadas pelo grupo:

CHÉRI - Gabrielle Colette Sidonie.
C'ERA UNA VOLTA L'AMORE MA HO DOVUTO AMMAZZARLO - Efraim Medina Reyes.
QUESTO È STATO - Piera Sonino.
POST OFFICE - Charles Bukowski.