Durante um tempo da minha vida eu convivi com um grande poeta e compositor, passado os ventos de mudança, restaram os presentes e sabor da poesia. Compartilho essa que mesmo tão linda falava de desejar alguém e não ser correspondido:
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O desejo não nos pertence, tem vida própria e toma por conta própria suas decisões.
É ele que te escreve agora.
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O desejo que habita em mim te deseja tanto, tanto
que para te desejar já não precisa nem mesmo teu consentimento
O desejo que habita em mim
te deseja tanto, tanto
que para te desejar
de ti já não necessita nada
Nem sorriso
Nem aceno
Nem abraço
O desejo que habita em mim
te deseja tanto, tanto
que já não se importa nem mesmo
em passar por ti despercebido
Uma pouca vergonha
este desejo canalha
este desejo bandido
que me assalta
e me dá na cara
Uma pouca vergonha
este desejo covarde
que me espreita
e me ataca pelas costas
este desejo palhaço
se rindo das voltas da minha cabeça
este desejo cachorro
acorrentado ao vão das minhas pernas
este desejo secreto
mudo
este desejo indiscreto
molhado
este desejo indecente
duro
este desejo facil,
tão facil quanto depois de ti
desejar todas as outras.
É mesmo virado
este desejo menino
que me habita agora
que acorda só
e anda pela casa
que desarruma a cama
e quebra pratos na cozinha
É mesmo um fiasco
este desejo fracasso
filho dos teus braços
nascido de tua boca
É mesmo um porre
este desejo chato
este desejo imenso que nunca descansa
Nem mesmo enquanto o mundo todo para
diante da vida que pulsa nos passos da madrugada
este desejo se aquieta,
sem sono
toma minha mão
cansado
se deita comigo
criança
fraqueja e antes do clarear do dia
adormece ao meu lado
nos braços da poesia.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
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